- Depois de uma primeira leva que deixou a desejar, a segunda foi decepcionante
- Prometeu combater “compadrio, amiguismo…”, mas na primeira oportunidade mimou amigos
- Caifadine e Basílio lhe apoiaram no Comité Central e Ricardo Sengo era o “manda chuva”
- Sua nomeação é tida como pagamento de favores por o terem ajudado a chegar ao poder
- Não é desta que haverá Governo inclusivo: Frelimo fintou Renamo, MDM e PODEMOS
No seu discurso inaugural, bastante aplaudido dentro e fora do partido, o Presidente da República, Daniel Chapo, prometeu fazer diferente para alcançar resultados diferentes, combatendo práticas como o “compadrio, clientelismo, amiguismo, nepotismo, lambebotismo e incompetência”. Todavia, entre o discurso e a acção há ainda um grande caminho por percorrer. É que, no seu Governo constam três ministros que, segundo os corredores internos na Frelimo, a sua nomeação não passa de um “job for the boys”, um termo inglês associado geralmente ao pagamento de favores políticos.
Evidências
Mantém-se, na grande maioria dos moçambicanos, a expectativa de ver um Governo capaz de fazer diferente para obter diferente. Se as métricas de avaliação de governação em ciências políticas permitissem avaliar os primeiros 10 dias, certamente que a avaliação seria negativa. Ainda não se sentiu o perfume das reformas anunciadas na investidura. Mas, como referimos, o tempo ainda não foi suficientemente mestre para determinar qualquer prognóstico.
Com um governo em crise de legitimidade e a ser montado em fases, Daniel Chapo anunciou a primeira leva de ministros há mais de uma semana, concretamente, mais de 48 horas depois de ser investido Presidente da República. Entre os nomes mais sonantes da primeira leva consta Basílio Muhate, ministro da Economia, para muitos uma escolha inocente, mas para os mais entranhados na política há uma explicação.
É que, Basílio Muhate, um jovem líder formado em economia e com um passado sólido de militância na Organização da Juventude Moçambicana (OJM), braço juvenil do partido Frelimo, foi um dos primeiros a endossar o seu apoio a Daniel Chapo durante a sessão do Comité Central que culminou com a sua eleição.
Tal como Muhate, Caifadine Manasse – premiado com o cargo de ministro da Juventude e Desportos – Mety Gondola, Licínio Mauaie, entre outros jovens formados nas canteras da OJM, quando ainda era mesmo OJM, foram os que decidiram abordar, ainda na sexta-feira (primeiro dos três dias de sessão) à noite, Daniel Chapo para montar-se o plano “B”, para que caso nenhum dos tantos candidatos que vinham do Comité Central passasse, não retirasse a sua candidatura como estava predestinado.
A Daniel Chapo, que chegou ao Comité Central como simples convidado e foi introduzido na lista dos pré-candidatos pela Comissão Política, juntamente com Damião José, ambos como fauna acompanhante de Roque Silva, o sádico secretário-geral da Frelimo que havia sido escolhido por Filipe Nyusi, entre todos os 30 milhões de moçambicanos, como o único que pudesse o suceder.
Naquela noite, Chapo foi prometido pelo grupo de Caifadine e companhia apoio, logística, caso fosse necessário, e suporte de quase todos os gabinetes eleitorais cujos candidatos, alguns dos quais de peso, se sentiram marginalizados pela Comissão Política. Tudo foi feito no secretismo e até o início da votação na tarde de Domingo, Filipe Nyusi, Roque Silva e o seu grupo estavam convencidos de que Daniel Chapo iria retirar a candidatura.
Mau grado, quando iniciou a votação, ficaram atónitos quando o jovem Chapo se manteve na corrida. Apenas Damião José é que aceitou fazer em pleno o papel de “boneco” ao qual havia sido mandatado. Retirou a candidatura e ainda ficou a olhar para Daniel Chapo na esperança de que este também seguiria a estratégia, abrindo espaço para Roque Silva, mas não aconteceu. Assim, a lista final ficou composta por quatro candidatos, nomeadamente Roque Silva, Esperança Bias, Francisco Mucanheia e Daniel Chapo.
Tal como prometido, o apoio dos membros do Comité Central foi canalizado na sua máxima força e em jeito de vingança a Daniel Chapo, que obteve 103 votos, batendo com uma margem muito grande a Roque Silva, que obteve 77 votos, enquanto Francisco Mucanheia obteve 47 e Esperança Bias teve uns humilhantes três votos. Estava confirmada a qualquerização de um secretário-geral e de uma presidente da Assembleia da República.
É a estes trabalho de bastidores que, ao que tudo indica, Daniel Chapo está a premiar com a nomeação de Caifadine Manasse, ministro da Juventude e Desportos, e Basílio Muhate, ministro da Economia, prevendo-se mais “job for the boys” para mais figuras ligadas a este episódio no Governo e no partido. Ambos não têm experiência ministerial. Enquanto Caifadine já chegou a estar ao mais alto nível do partido como membro do secretariado e secretário para a área de Mobilização, Muhate tem mais ligação ao sector empresarial do Estado e como economista é bastante experimentado no Banco de Moçambique, de onde é quadro.
Ricardo Sengo: O Manda-Chuva
Sem kingmaker e procurando estar longe dos grupos de lobby que captura dirigentes, Daniel Chapo encontrou em Ricardo Sengo seu principal braço direito, que esteve próximo de si desde a pré-campanha até a sua eleição.
É descrito como “manda-chuva” pelo seu papel fundamental no lobby e mobilização de recursos para a campanha do então candidato, longe dos anteriores círculos habituados a financiar actividades para capturar dirigentes e continuar a comer a torta e grossa. A sua proximidade a Chapo causou inveja de algumas pessoas que gostavam de estar mais aconchegados ao homem que estava predestinado a ser o que segue.
A sua nomeação nesta segunda leva como ministro na Presidência para os Assuntos da Casa Civil, praticamente como seu ele mais confiável no Governo, é vista como mais um “job for the boys”, pelos préstimos prestados desde que foi indicado candidato.
Refira-se que, para além de Caifadine Manasse e Ricardo Sengo, o Presidente da República nomeou ainda a apagada, mas sortuda, Nyelete Mondlane para o cargo de ministra dos Combatentes; a tecnocrata Samaria Tovela para o cargo de ministro da Educação e Cultura, Ivete Alage passa a ser a nova ministra do Trabalho, Género e Acção Social, e Fernando Rafael para o cargo de ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos.
Falta ainda por indicar um único ministério, o que mostra que Chapo não vai cumprir a sua promessa de inclusão, que chegou a ser confundida com a possibilidade de nomeação de ministros vindos da oposição, mas que, entretanto, acabou enfrentando resistência no seio dos camaradas. AA luz do diálogo em curso havia um entendimento para que alguns ministros fossem nomeados pelos três ministros com assento parlamentar, nomeadamente Renamo, MDM e PODEMOS, mas, ao que tudo indica, foram fintados.

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