No dia 9 de Julho, através do portal do Governo de Ruanda, ficamos a saber que este país vai enviar mil militares às terras de Cabo Delgado, os contornos continuavam especulativos, porque a contra parte, os hospedeiro, com maior responsabilidade de partilhar as zonas de penumbra nunca se mostrou aberta, sendo por isso responsável pelas especulações que dominam o assunto, forçada por ausência de comunicação e quando existe, é ambígua.
Na semana passada, foi de Ruanda que voltamos a ouvir que o seu exército matou 14 insurgentes (e as FDS?), numa conferência de imprensa concorrida, com apresentação detalhada de números e com direito a perguntas por parte dos jornalistas. E as Forças de Defesa e Segurança, os supostos coordenadores das operações estrangeiras, onde estavam?
Aqui na pátria amada não temos memórias de qualquer conferência de imprensa esclarecedora de Coronel Omar Saranga, muito menos com direito a perguntas. São sempre conferências de imprensa para reagir, nunca para dar a conhecer aos moçambicanos sobre Cabo Delgado, um vírus de comunicação que se estende às comunicações do Chefe máximo das FDS, que até em comunicações à nação, precipita-se em reações às especulações forçadas pela falta de informação, do que para dar esclarecimentos dos passos dados com vista a acabar com os autores de terror.
Como na última comunicação, onde fala de intervenção solidária, mas não explica o enquadramento dessa solidariedade, os custos envolvidos, os prazos da operação, o papel destes, daqueles e dos nossos. Correm para classificar tudo na mesma rubrica de “questões operativas” para se eximir das responsabilidades de prestar contas, e a margem do sangue que suja as terras de petróleo de Cabo Delgado, e em nome de “questões operativas”, drenar aos bolsos rios de dólares e garantir a vida depois dos próximos três anos. Não será nenhuma surpresa se nos próximos anos, descobrir que, apesar dos pagamentos de hoje, temos uma factura a ser paga.
É o problema de comunicação, que indicia esse roubo. Afinal, tem que existir uma vantagem em não prestar contas, como fez Angola, África do Sul e Zimbabwe, países amigos que não aceitamos importar o que muito têm de bom, a cultura de transparência. Foi deles que ficamos a saber dos números, os custos e como eles pretendem prestar apoio em Moçambique.
É desses países amigos, que temos informações sobre o que realmente acontece em Moçambique, e porque são informações destinadas aos seus povos, a quem eles têm maturidade de prestar contas, a nós que recorremos à boleia das mesmas informações que chegam fragmentadas e é preciso recorrer à nossa matemática e deduções, quando temos um governo eleito, que, no lugar de imitar a postura do Estado destes países, prefere aparecer para reagir do que para prestar contas.
E continua o silêncio. Até quando a oportunidade surge as informações são ambíguas. Ah, porque “eu farei tudo pela paz!”. Tudo o quê? Mas qual é o custo desse “tudo”? E o parlamento? E as FDS o que fazem já que Ruanda reivindica para si as vitórias sobre os terroristas?
Até de Ruanda, a quem não apreciamos o regime, temos algo a aprender. Afinal recorremos hoje a este país para ter informações daqui e há quem não se envergonhe por isso. Nem do gesto de JL, que foi discutir o assunto do envio de 20 militares no seu parlamento e, pior, nem de África do Sul.
Enquanto resistimos às boas maneiras de servir o público, vamos nos especializando em secundar o que os outros dizem, dar informações incompletas e ridicularizar quem questiona.
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