Zambézia e Gaza desrespeitam “ordens superiores” e levam sistema de candidatos únicosà beira do colapso

DESTAQUE POLÍTICA
  • Pio Matos correu sozinho e perdeu a corrida, enquanto Mapandzene ganhou à tangente
  • Processo da Zambézia volta à Comissão Política já com prazos apertados

Depois da humilhação imposta a Roque Silva na Escola Central do partido em Maio passado, que era aposta pessoal do Presidente do partido, Filipe Nyusi, mais uma vez, os camaradas voltaram a desrespeitar as ordens de cima. Tal como o Evidências avançou semana finda, todos os governadores provinciais, à excepção de Manuel Rodrigues, em Nampula, e Eduardo Mussanhane, em Inhambane, concorreram entre sexta e sábado como candidatos únicos a cabeças-de-lista das respectivas províncias. Entretanto, a imposição da comissão política não caiu bem no seio dos camaradas que fizeram questão de demonstrar a sua insatisfação nas urnas. Como tal, enquanto Pio Matos, na Zambézia, não conseguiu vencer uma “corrida” em que concorria sozinho, em Gaza, Margarida Mapandzene teve uma taxa de rejeição de 40 por cento, mesmo sendo candidata única.

A experimentar aos poucos o isolamento próprio do fim de ciclo, Filipe Nyusi voltou a testar, semana finda, o seu poder a nível do partido dos camaradas, tendo, através da Comissão política, imposto a recondução dos actuais governadores provinciais, concorrendo como candidatos únicos à cabeça-de-lista da Frelimo.

A medida, bastante contestada desde o início, levou aos camaradas a, literalmente, desrespeitarem uma ordem superior, ao “chumbarem” um candidato imposto pela Comissão Política, que mesmo concorrendo sozinho não conseguiu reunir votos suficientes para se eleger.

Trata-se de Pio Matos, actual governador da Zambézia, que a concorrer sozinho, ou seja, como candidato único a sua própria sucessão, não conseguiu obter pelo menos 25% dos votos, conforme manda a directiva, o que significa que 75 por cento dos membros do Comité Provincial depositaram votos nulos ou em branco, numa acção premeditada que revela o nível de insatisfação dos membros na Zambézia pelo facto da Comissão Política ter imposto Pio Matos como candidato único.

Dos 122 delegados do Comité Provincial, Pio Matos obteve uns humilhantes 28 votos. 91 votos foram introduzidos na urna em branco e três nulos. Com isso, Pio Matos somou apenas 23.6% de votos, muito aquém do mínimo de 25 por cento exigido por lei.

Neste momento está aberto um vazio jurídico, pois Pio Matos era candidato único e não se podia simplesmente abrir espaço para novas candidaturas nesta sessão extraordinária do Comité Provincial porque a directiva indica que os candidatos a candidatos a cabeça-de-lista precisam ser confirmados pela Comissão Política.

Assim sendo, a Comissão Política deverá reunir-se nos próximos dias para indicar outros nomes para concorrerem ao cargo ou impor Pio Matos, apesar de ser ilegítimo, tendo em conta que o prazo para a submissão de candidaturas encerra no próximo dia 10 de Junho corrente. Neste momento, o Presidente da República está de visita de trabalho na Coreia do Norte e regressa ao país esta quinta-feira, devendo convocar para os próximos dias a Comissão Política para decidir sobre a batata quente da Zambézia, onde o seu candidato foi humilhado.

Margarida Mapandzene ganhou a tangente mesmo concorrendo sozinha

Sorte diferente de Pio Matos teve Margarida Mapandzene, actual governadora de Gaza, que mesmo concorrendo sozinha foi eleita à tangente, com 68% dos votos, ou seja, 32% decidiram boicotá-la, o que é sinónimo de rejeição, depois de um mandato pálido em que se viu associada a escândalos de nepotismo, ligado ao sector de obras públicas.

Recorde-se que o Evidências reportou, na semana passada, que a Comissão Política decidiu impor a recondução de todos actuais governadores provinciais que deviam, para tal, concorrer como candidatos únicos, à excepção de Inhambane e Nampula, nesta última onde o órgão decidiu punir Manuel Rodrigues por ter se recusado a ser cabeça-de-lista nas autárquicas passadas. Na altura já alertávamos que podia haver alguma desobediência, e foi o que aconteceu.

Nos restantes Comités Provinciais, apesar da contestação, os membros decidiram obedecer a imposição da Comissão Política. Assim, Manuel Tule (Maputo), Francisca Tomás (Manica), Lourenço Bulha (Sofala), Valige Tauabo (Cabo Delgado), Domingos Viola (Tete) e Elina Judite Massengele (Niassa) foram reeleitos para encabeçar a lista da Frelimo nas próximas eleições provinciais.

Eduardo Mariano Abdula, em Nampula, e Francisco Pagula, em Inhambane, são os únicos cabeças-de-lista que até à data da sua eleição não eram governadores. Abdula é um proeminente empresário e membro sénior do partido, enquanto que Pagula, de apenas 33 anos de idade, está a ter uma ascensão meteórica.

Refira-se que as eleições com candidatos únicos à moda da Coreia do Norte são uma marca do reinado de Filipe Nyusi e que teve em Roque Silva o seu principal obreiro. Entretanto, mostra sinais de estar a entrar em colapso.

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