Chiquinho é mais uma vítima da banalização do interesse colectivo por interesses de grupos

EDITORIAL

Não há maior exemplo de como aspectos fúteis (aqueles que questionam a nossa autoridade ou mexem com os ânimos) podem minar a produtividade daquilo que estamos a ver agora no futebol, onde aspectos técnicos, que devem ser determinantes para contratação ou eleição dos administradores públicos, estão a ser preteridos em detrimento de satisfação de grupos.

 

Começamos pelo início: Chiquinho Conde foi contratado pela Federação Moçambicana de Futebol para funções de Seleccionador Nacional de Futebol com metas claras. E a primeira, que até constou de uma das cláusulas do seu contrato, tinha que ver com a necessidade de qualificar Moçambique para o CHAN e, posteriormente, para o CAN. E conseguiu. Há 13 anos que Moçambique não conseguia qualificação para o CAN. Mas Chiquinho conseguiu e levou os Mambas a uma inédita disputa dos oitavos de final. Portanto, provou ser melhor que os tantos seleccionadores nacionais e estrangeiros que já assumiram o comando da equipa de todos nós sem, no entanto, conseguir esse êxito.

 

E todo esse êxito só lhe valeu uma renovação de um ano, graças à pressão social, afinal, ao que tudo indica, a FMF queria que fosse apenas por três meses. E a pergunta que qualquer moçambicano médio está se fazer neste momento é: afinal, por que há tanta relutância em dar ao césar o que é de césar? A resposta pode ser encontrada nos interesses de grupos. No futebol, sob batuta de Feizal Sidat, uma zanga pessoal ou problemas pessoais podem ser sacrificados a favor da satisfação da coletividade. As negociatas muitas vezes se sobrepõem.

 

O que Moçambique precisa é de um seleccionador ganhador, depois iremos tratar de assuntos de ânimos pessoais, em fórum apropriado, afinal estamos diante dos nossos aqui, e não daquelas importações de gestores.    

 

Esses são os piores inimigos do Estado e estão por detrás de fracassos da ideia da construção colectiva e em todas as esferas sociais, mesmo que isso custe vilipendiar a soberania. Não há hesitação. Daí a pretensão sempre por estrangeiros.

 

Quando a gestão técnica estava sob direcção de seleccionadores importados, a FMF não conseguia resultados satisfatórios, mas agora que estamos diante de um técnico nacional é mesmo engavetado nas suas mais profundas entranhas que lhe foi pedido gelo. Eis a explicação de sempre optarmos pelos de ferro, mesmo que isso custe perpetuar o problema no lugar de resolvê-lo.

 

Cabo Delgado é disso um exemplo. Mobilizamos países para apoiar o exército de Ruanda, no lugar do nosso, porque temos essa obsessão em colocar-nos dependentes dos estrangeiros, aquilo que afinal podemos resolver. Os resultados de Chiquinho não se limitam no futebol, vão muito além desfazendo essa crença hasteado pelo poder político, de que não existem quadros para os nossos problemas. Podíamos falar aqui da LAM, onde os estrangeiros mostraram-se mais incompetentes, e o poder político mostrou a verdadeira face. É mesmo para mostrar que Chiquinho é mais que futebol, mais uma ilustração dos reais inimigos dos moçambicanos que ousam mostrar as suas capacidades. Não nos suportamos!

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