- Weemotion já conta com mais de 800 mil usuários dentro e fora do país
Aos 25 anos, o jovem moçambicano Cassamo Pinto entra na história das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) ao lançar a primeira rede social no país. A plataforma, chamada “Weemotion”, foi lançada a 06 de Julho e já conta com mais de 800 mil usuários, entre nacionais e internacionais. Com uma visão inovadora de promover a soberania digital e a segurança da informação, Cassamo transforma o cenário digital do país desafiando o domínio das redes sociais internacionais.
Elisio Nuvunga
A ideia de desenvolver a “Weemotion” surge da necessidade de Moçambique possuir uma presença digital própria, de acordo com o fundador, para quem a actual dependência de plataformas internacionais leva a problemas como roubo de dados e empecilhos de vária ordem devido à falta de regulamentação local.
“O que me levou a criar esta rede social é mesmo pelo facto de estarmos na era digital. Sendo Moçambique uma nação, nós precisamos de uma soberania digital e isso tem que ser feito internamente porque todos os instrumentos usados na nossa comunicação são internacionais, e essas redes internacionais não nos dão a possibilidade de combater certos ilícitos, por isso há muito roubo de páginas, burlas porque é um espaço sem lei, onde qualquer um pode entrar e fazer o que bem entender”, disse o jovem estudante de engenharia informática.
Weemotion é, segundo o jovem criador, um termo que melhor expressa a emoção e orgulho nacional, tendo sido pensado para responder às necessidades dos moçambicanos. Aliás, não só dos moçambicanos, pois em pouco tempo conseguiu convencer mercados tão exigentes como o brasileiro e português, para além de um grupo de indianos que estudam a possibilidade de investir no seu projecto.
A “pressão” de revolucionar as TICs no contexto moçambicano surge, curiosamente, na faculdade, onde cursa administração de informação e redes. Mesmo antes de terminar o curso, muito cedo percebeu que é capaz de materializar a teoria na prática. Para tornar o projecto uma realidade, foram investidos mais de 600 mil meticais, frutos de poupança nos primeiros dois anos da Faculdade. Este valor cobriu a compra de servidores e serviços de hospedagem.
“No primeiro e segundo ano comecei a juntar algum capital para começar com o projecto. Neste momento foram investidos mais de 600 mil, para compra de servidores e serviços de hospedagem e domínio. Esse valor justifica a primeira fase do projecto para o lançamento de algumas funcionalidades e daqui em diante vamos precisar de mais infra-estruturas para absorver esses dados. A título de exemplo, por cada dia recebemos cerca de 16 gigabytes de informação”, explicou.
Actualmente, a “Weemotion” oferece uma plataforma para mensagens, fotos e vídeos curtos. Futuramente, a rede social pretende adicionar novas funcionalidades, como chamadas de vídeo e lives, além de possibilitar a monetização de conteúdo (pagamento aos usuários), similar às redes internacionais.
“É uma rede de mensagem, fotos e vídeos de 30 segundos. Mas faz parte do nosso projecto aumentar os serviços. A rede oferece, também, comodidade, segurança, disponibilidade da informação e maior alcance de contas empresariais. Daqui a algum tempo espera-se alcançar mais moçambicanos. Nós queremos apresentar mais produtos lá que é a possibilidade de eles fazerem suas próprias chamadas, lives, videochamadas. Com o tempo, os seguidores poderão ser remunerados, através da monetização de conteúdos, o que também acontece nas redes internacionais”, assegurou.
“O produto tem a mesma qualidade de padrão internacional”
Embora a maior parte dos usuários seja de fora de Moçambique, Cassamo entende que há necessidade de conscientizar as massas, o objectivo é aumentar a conscientização das massas para a utilidade da plataforma para os moçambicanos, até porque a rede social oferece a mesma qualidade padrão internacional.
“Os maiores usuários são internacionais, apesar de ser uma plataforma Made in Mozambique, por isso as pessoas precisam ser conscientizadas sobre como os serviços podem ser úteis para eles. Mas há também a necessidade de fazer-se uma reeducação da sociedade para o consumo nacional porque a maior parte dos produtos são internacionais até as próprias redes. Tem que haver uma cultura na sociedade para o consumo de produtos nacionais. O produto que a gente oferece neste momento tem as mesmas qualidades de padrão internacional e as mesmas ferramentas respeitam o mesmo padrão”, defende.
Com uma equipa de 17 pessoas, incluindo programadores e engenheiros de software, a Weemotion se destaca como pioneira no mercado moçambicano, porque várias iniciativas para criação de redes sociais não chegaram a ser concretizadas.
“Me considero pioneiro, porque quando fizemos estudos de mercado, verificamos que as pessoas que tinham propostas de criar redes sociais não chegaram a lançar. A nossa rede, sem dúvida, é a pioneira, com muitos usuários, porque não só alcançamos Moçambique como outros países”, sublinha.
Em termos de feedback, o fundador da rede conta que tem sido positivo, com um crescente número de cadastros e interacções na plataforma, pela simplicidade que ela oferece.
“O feedback é positivo porque nós acompanhamos através da plataforma, e conseguimos verificar os números de usuários, partilhas, cadastros, pessoas a reagirem, então, na base desses elementos, concluímos que a rede está a ser bem recebida, apesar de serem pessoas internacionais. A rede é muito simples e directa, e a nossa rede não oferece manobras porque não adicionamos muitas funcionalidades numa primeira fase, isto para facilitar a interacção entre usuários”, explicou.
Um sistema de gestão de informação sem recorrer ao estrangeiro
A Weemotion não é apenas uma simples rede social, espera-se também futuramente estabelecer um ecossistema de gestão de informação sem recorrer ao estrangeiro.
“As maiores empresas de redes e telecomunicações são empresas de segurança, a nossa rede é um caminho para uma empresa de segurança. A empresa de segurança proporciona informação, então a Weemotion é também um meio para alcançar outros objectivos que é proteger a nossa informação local e não dependermos de entidades internacionais, por outro lado vai nos possibilitar a nossa soberania de informação a cultura, porque nos países desenvolvidos, quando alguém cria uma empresa de comunicação faz-se sempre uma auditoria da informação reservada como forma de proteger a cultura e aprovar que tipo de informação pode ser difundida. Para além de uma rede estamos a criar um ecossistema de gestão da informação, onde podemos ter vários índices e estatísticas”.
É desta forma que o jovem Cassamo está traçando um novo caminho na era digital, promovendo a soberania e a segurança da informação em Moçambique. Com uma base sólida e planos ambiciosos para o futuro, a plataforma promete ser uma referência no cenário digital nacional e além-fronteiras.
O fundador é natural da província de Zambézia, distrito de Quelimane. Actualmente é estudante finalista de telecomunicações e redes pela Universidade São Tomás (USTM), em Maputo, para além de programador na empresa de comunicação TV Sucesso.
A paixão pelas TICs surge aos 14 anos, quando frequentava o ensino médio, onde nos tempos livres o computador e a internet eram seus melhores amigos, e a partir desse momento começou a fazer cursos complementares até entrar a universidade.
Facebook Comments