Novas tácticas de fraude e uma Frelimo em total desespero

EDITORIAL

É vergonhoso que 30 anos depois da introdução do multipartidarismo, recusámo-nos a introduzir processos eleitorais sofisticados e electrónicos e gastamos dinheiro em processos burocráticos, com excesso de intervenção manual, com o fim único de facilitar a viciação dos resultados. Quem trabalha não se prepara para roubar, maus senhores. É ainda vergonhoso ver a Frelimo de Mondlane e Machel a recorrer a métodos clandestinos e nocturnos para poder ganhar eleições, quando nos vende todos os dias a narrativa de que está a desenvolver o País.

Ainda estamos na aurora do processo eleitoral, mas já é possível constatar uma viciação grave ainda na fase do recenseamento, num momento em que devíamos estar comprometidos em reduzir burocracia e emitir sinais de transparência para aqueles que nos rotulam como um país de fraudulentos.

Mais… É curioso que tudo que envolve a CNE seja problemático, a eleição dos seus membros como bem se viu há meses, a contratação dos serviços para viabilizar as suas actividades, agora o recenseamento e, em breve, já podemos prever, eleição fraudulenta com direito a propaganda ocidental, a mesma que reza transparência, justiça e liberdade.

O que se viu, semana passada, anuncia a chegada da nuvem negra que irá cobrir o processo eleitoral, uma acção ingénua de alguém que está preocupado em exibir um trabalho de mestre para Frelimo, sem se importar com as consequências que isso pode trazer para o País e muito menos ao próprio partido. E o partidão, que faz vista grossa a inteligência dos outros, não consegue ver nisso uma possibilidade de ser mão externa a actuar para destruir tudo por dentro. Afinal, oitos anos depois de improdutividade, nada irá sobrar com a exibição da fraude, de noite e de dia, como bem se viu em Ribá uè e Mulotane.

A primeira indicação de ser fraude institucional, minuciosamente calculada, reside no facto de se ter aceite o recenseamento de pessoas que vivem fora das áreas municipais e ninguém questionou.

Depois seguiram-se os casos reportados em Goruè, na Zambézia e Chiúre, em Cabo Delgado. Já no último sábado foi feito o flagrante mais esclarecedor de brigadistas a recensearem eleitores à calada da noite no distrito de Ribáuè, província de Nampula, como ilustrou o vídeo que pode ser visto no site deste jornal ( www.evidencias.co.mz ). Estamos sim a falar da mesma Nampula que tem como o chefe, a nível do partido, o superministro, o mestre da táctica que ludibriou a oposição nas 11 províncias em 2019 e que agora foi confiado mais uma vez o Gabinete de Campanha, mas parece que desta vez a esperteza do génio dos números está a ficar escancarada.

Os órgãos eleitorais em Nampula já se pronunciaram, anunciando a rescisão do contrato do Director Distrital do STAE, do supervisor e os respectivos brigadistas todos encontrados no local do crime. Igualmente foi instaurado um processo criminal contra os mesmos, mas não se fala de detidos e curiosamente não houve também sequer um pio sobre o dono da casa onde o crime ocorreu, neste caso, o primeiro secretário da Frelimo.

Não foi nem detido, nem constituído arguido e nem sequer disciplinarmente repreendido pela Frelimo, qual Partido Guia do Povo, que hoje anda de costas voltadas com a moral e de mãos dadas com a indignidade, até porque os actuais “donos da situação” já nem sentem vergonha de estar associados a vitórias preparadas à calada da noite, como que a assumirem que são impopulares e incapazes de vender alguma utopia ao povo.

Ou seja, estão tão cientes que fizeram mal ao próprio partido e aos moçambicanos que já nem sequer acreditam que as vitórias retumbantes se ganham num jogo limpo, sem requerer a esperteza do mestre da táctica e génio dos números que não batem. O povo de Gaza, lá em 2043 sabe muito bem o que é pular duas décadas num recenseamento fraudulento e as 65 autarquias não serão excepção, tendo em conta o que se assiste.

Enquanto isso, na província de Maputo, circula um outro vídeo a mostrar que a viciação antecipada não precisa esperar noite, ocorre também de dia, com recenseamento daqueles que compactuam com a fraude e dos inocentes iletrados, que afinal, não sabem distinguir eleições municipais das gerais, mas são, por arresto histórico, leais a Frelimo de Mondlane e Machel. A ideia de recensear todo distrito e não somente a área municipal, como sempre aconteceu, é mesmo para diluir tudo e colocar gente da periferia a votar nos municípios em que não vivem. Um golpe do mestre da táctica.

Este é o ambiente que antecede a realização das eleições autárquicas, que no lugar de expor uma Frelimo em desespero, deviam, ser as mais transparentes e darem menos trabalho ao partidão, que apesar de somar a impopularidade, tem a vantagem de ter uma oposição parlamentar em profundo sono, desde a mortes dos seus lideres.

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