A arte de matar nas redes sociais

OPINIÃO

Alexandre Chiure

Está a tornar-se uma prática corrente no país alguém anunciar, em grupos de Whatsapp ou noutras redes sociais, a morte de uma figura pública, quando, na verdade, essa pessoa está viva e nem sequer se encontra doente. Num passado recente, apontava-se o coronavírus como a causa da morte.

Sempre que uma informação dessas é posta em circulação gera um ambiente de dor e consternação no seio de familiares que vivem distantes do visado, incluindo amigos, conhecidos e a comunidade no geral.

A mentira só é descoberta quando no meio de muita tristeza, há quem, com alguma frieza, resolve procurar confirmar o caso.

Um dia fiquei sem chão ao ler, num dos grupos de Whatsapp, a informação de que Dom Dinis Sengulane havia nos deixado. Na altura, dizia-se que ele tinha sido  vítima da covid-19.

Tal aconteceu quando acabava de ver imagens televisivas relacionadas com o seu programa denominado “Vida Plena”, que passa aos domingos num dos canais privados da TV.

Confesso que fiquei bastante chocado e tentava digerir a notícia quando soube de outros membros do grupo que, afinal, ele estava bem vivo e que quem morreu foi o seu irmão Moisés Sengulane. Triste.

Ao tentar refazer-me do susto, eis que num outro grupo de Whatsapp, um sujeito que se identificou como sendo jogador do Clube de Chibuto apareceu como que a confirmar a morte do presidente do clube, Yunusso Valente Albino, igualmente vítima da covid-19.

Deixei-me cair na ratoeira porque era alguém muito próximo do dirigente do clube em causa. Infelizmente, mais uma vez estava em presença de uma brincadeira de mau gosto praticada por indivíduos irresponsáveis e sem escrúpulos. Pessoas que nada têm a fazer na vida que não seja inventar mortes.

Antes destes dois casos, circulou, em quase todos os grupos de que sou membro, e não são poucos, a informação da morte do sociólogo Gulamo Taju. Teve que ser ele próprio a entrar em alguns dos grupos e desmentir a notícia. Vejam só até onde as coisas chegaram.

Há bem pouco tempo, a vez foi do embondeiro da música moçambicana, Xidiminguana. Ele foi morto e chorado, de que maneira, nas redes sociais. A “notícia” mais recente refere-se ao académico Ismael Mussa. Segundo os internautas, ele teria encontrado a morte algures na África do Sul juntamente com seu filho, o que era, mais uma vez, mentira.

Os mentores destas falsas notícias brincam com os sentimentos das pessoas. Mexem com os corações de todos nós já cheios de preocupações e com a nossa sensibilidade. Desestabilizam a sociedade no seu todo.

Antes de postarem este tipo de coisas, devem pensar primeiro no impacto negativo que elas representam ou nos danos que vão provocar nas pessoas, nomeadamente no seio da família do visado, da sua comunidade, do seu bairro, dos seus amigos, vizinhos e colegas de serviço. Coloquem-se no lugar de todas estas pessoas.

É preciso ter muita coragem para anunciar a morte de alguém que nem sequer está doente e divertirem-se com isso.

Os responsáveis por estes anúncios de mortes falsas, quando localizados, devem ser denunciados às autoridades para que sejam punidos exemplarmente e através deles, desencorajar futuros casos.

Aliás estou espantado que até hoje a Polícia não tenha iniciado uma aturada investigação para prender estes malandros. Afinal porque é que nos obrigaram a registar os nossos números nas operadoras de telefonia móvel? Não era para, em caso de necessidade, rastrear um e outro número e chegar aos criminosos, burladores e outros? Se é isso, de que é que estão à espera?

Há todo o tipo de gente nas redes sociais, desde pessoas honestas, a criminosos, em particular burladores, que tentam, a todo o custo, enrolar os distraídos para lhes tirar dinheiro, usando muitos esquemas. Alguns fulanos enviam, por exemplo, mensagens aleatoriamente, dizendo: “envia aquele dinheiro para este número de Mpesa”. Os que têm transferência a fazer chegam a cair na ratoeira e enviarem o dinheiro. Às vezes são valores altos.

Outros bandidos pedem que lhes enviem alguns valores usando o nome de pessoas amigas da vítima ou chefes hierárquicos alegando que é para resolver preocupações urgentes. Que os beneficiários do apoio não podem pedir pessoalmente porque estão reunidos, etc. etc.

Conheço pessoas que caíram nessa armadilha. Houve um caso em que o burlador usou o nome de um ministro para o seu subordinado dizendo que só não fez o pedido pessoalmente porque estava reunido. Quinze mil meticais foram-se num lapso.

Como estes, há muitos casos criminais que rolam, de diversas formas, nas redes sociais. Alguém tem que se encarregar de parar com estas brincadeiras. Há crimes atrás de crimes que ocorrem com impunidade em diferentes plataformas prejudicando cidadãos honestos. É tempo de a polícia mostrar serviço. Usar todos os meios ao seu dispor para combater este tipo de criminalidade que ocorre a luz do dia e responsabilizar os seus autores.

Os factos são tão evidentes que dispensam qualquer tipo de denúncia. O que falta mesmo é a acção policial.

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