De tio de Chapo a comadre de Talapa, Paúnde carrega, agora, sobrinha para ser secretária-geral

DESTAQUE POLÍTICA
  • A vez de Paúnde: Cidália Chauque em ombros seguros para SG
  • Na corrida está “Samito” acusado de não ter ideias do pai por Chipande
  • Homem do primeiro tiro desafiou-o a trilhar caminho próprio, sem se apoiar no apelido
  • Raimundo Diomba, sobrevivente de poder Maconde, põe equilíbrio na corrida
  • Chaquil Abubakar também entra na corrida e já fez chegar o pedido a Chapo

Com a presidência do partido já predeterminada, a corrida a secretário-geral de sexagenário já começou. Apesar de se especular uma longa lista, apenas três nomes já manifestaram de forma expressa e dois dominam a marcha e são referenciados em todas as bocas do partido. Trata-se de Samora Machel Jr e Cidália Chauque. O primeiro vem em nome próprio e já foi confrontado por Alberto Chipande, na reunião dos descendentes dos combatentes a fazer o próprio percurso e não depender das glórias do pai, mas a segunda é empurrada pelos actuais donos do dono do Poder, que têm no Filipe Paúnde, o cépto da vez do Centro. Esta não seria a primeira peça de Paunde no consulado de Daniel Chapo, amigo pessoal e de longa data de Sérgio Paunde, mas sim a cartada final depois de jogar no parlamento e no governo, onde conseguiu colocar figuras cuja ascensão política gira em sua orbita. No parlamento, explorou a indecisão e receios de Chapo e Filipe Nyusi, para cogitar um nome consensual, Margarida Talapa, sua comadre. É ela que apadrinha a ascensão política de Cidália Chauque, viúva de Luís Oliveira, sobrinho do seu compadre e apontada como quase certa como número dois do partido.

Não há coincidências no poder. Uma observação à lupa do consulado actual, aponta para o mesmo polo de poder, um nome que, de forma intensa e leve, cruza-se com quase todos neste momento expostos ao poleiro.

Como tal, hoje, não está à margem a corrida para a eleição do secretário-geral do partido, cuja agenda consta da convocatória da sessão extraordinária do Comité Central da Frelimo, a decorrer no próximo dia 14 de Fevereiro. Na mesma sessão, deverá ser indicado o Presidente do Partido que, por tradição, é o Presidente em exercício, e o Secretariado do Comité Central.

O secretário-geral actual é uma figura com pouco inserção na Frelimo, sem apelido forte e muito menos proveniente de uma família de antigos combatentes. Apesar de ser algo positivo, numa perspectiva de não ser associado a alas, por outro, a sobrevivência no partido impõe inserção em alas fortes e, curiosamente, o nome do Paúnde está a se revelar muito presente.

É que mesmo antes de marcha, Chapo é amigo pessoal de Sergio Paúnde, filho de Paúnde, desde os tempos em que trabalhava na conservatória. Trata o pai de amigo como tio. Aliás, reza a história que Paúnde, que saiu do cargo do secretário-geral pela porta dos fundos, cogitou o nome de Daniel Chapo no Congresso da Frelimo em 2017. Curiosamente, no mesmo congresso em que Chapo entra no Comité Central.

Os passos a seguir do “dono do dono”

Polémico pela vida das vibes, como ficou evidenciado em Quelimane, quando foi supostamente roubado telefone e não deu queixa, Paúnde, velho discreto e calculista, é membro da Comissão Política (CP), desde a sua queda como secretário-geral no consulado de Guebuza.

É padrinho de casamento de Anchia Talapa, enquanto a mãe desta (Margarida Talapa), é madrinha de casamento de Joaquim Paúnde. Os filhos só serviram para consolidar uma relação que vai se mostrando determinante para ascensão política.

O antigo SG da Frelimo nunca saiu da cena. Com o assento cativo na Comissão Política, ele explorou a indecisão de Chapo para pôr na mesa o nome de Margarida Talapa, sua comadre. É que a escolha de Chapo pendia para Ana Comoana, que apesar de ter entrado no Governo pela mão de Filipe Nyusi, chegou a perder o autocontrolo numas das sessões da Comissão Política, e disse “chega”, apelando a entrega pontual do poder, quando Nyusi cogitava prolongar mais a divulgação dos resultados eleitorais até à instauração de instabilidade no País.

Comoana não mediu as palavras na reunião onde estava o sucessor (Chapo) na qualidade de convidado, disse ainda que Nyusi devia sair e dar o martelo ao seu sucessor. Talvez pensasse ela, interpretam as fontes, que caísse nas graças de Chapo, mas debalde. Ninguém que tenha desafiado Nyusi, foi chamado a integrar o Governo de Chapo. Um detalhe não confirmado foi o convite, na sessão da CP na semana passada, para chefiar a quinta Comissão na AR, mas ela recusou.

Este enredo favoreceu a Paúnde, que se mostrou um player meticuloso, que joga sem pressão. E às vezes, até quando não deixa rastros de ter jogado, a sorte vai sorrindo em sua direcção. Por exemplo, o actual Ministro de Justiça e Assuntos constitucionais, um político emprestado à justiça, é colocado a concorrer nas internas para edilidade na Beira, em 2013, ao lado de Jaime Neto, com apoio expresso de Paúnde. Anos depois ascende ao cargo de ministro de Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, numa altura em que este tem poder. Outro nome que não passa despercebida, é da Ivete Ângela dos Anjos Ferrão Alane que, afinal, foi sua chefe de Gabinete quando era governador de Nampula. Nas suas relações leves, Paúnde tem, também, no Governo, o seu antigo chefe na Autoridade Reguladora das Comunicações de Moçambique (INCM), onde quando Américo Muchanga, agora ministro de Comunicações e Transformação Digital era ministro, ele era administrador não executivo.

Uma influência que transcende o Governo e Parlamento

Seu poder de influencia não poderia se limitar ao Governo ou ao Parlamento. Tem agora a Cidália Chaúque, que é colocada como uma das pessoas bem posicionadas para chegar à secretária-geral da Frelimo. Ela é produto não apenas de Paúnde, mas de sua comadre, Talapa. O que deverá ser a cartada final para que poder gravite da mesma fonte.

Ela é viúva de Luís Martalona Oliveira, sobrinho de Paúnde, por isso tem se beneficiado muito da influência do antigo secretário-geral, o que foi determinante para ocupar os cargos de governadora de Nampula e  de Ministra do Género, Criança e Acção Social. É com base no mesmo apoio que chegou no Conselho de Administração de Instituto Nacional de Segurança Social, na mesma altura em que Talapa era Ministra de Trabalho.

Mas ela não está só na corrida. Está também Samora Machel Jr. que manifestou interesse nesta segunda-feira. “Moçambique precisa de Saúde em condições, de Educação em condições, de segurança alimentar, de oportunidades de emprego e de melhorar a condição de vida dos moçambicanos, porque se o moçambicano tiver a sua condição de vida melhorada, está em paz. Se o jovem pode trabalhar, está em paz, se tem oportunidades diferentes e pode empreender, está em paz. Significa que temos de estar numa situação em que todos nós nos sentimos confortáveis. Se essas forem as premissas para ser Secretário-Geral do partido Frelimo, eu estou interessado”, referiu.

Samito, como é tratado, não tem caminho facilitado, mesmo carregando o apelido do pai. No ano passado, na reunião dos descentes dos antigos combatentes foi desafiado, por Alberto Chipande que, de forma expressa, disse para o Samito rever os seus ideais e a trilhar o seu caminho.

“Você não é o seu pai”, disse Chipande, na reunião por si presidida, desafiando-lhe a assumir um papel determinante para o sucesso do partido. Machel tem sido crítico dentro da Frelimo e teve querelas indisfarçáveis com Filipe Nyusi, que poderá tudo fazer para evitar que ascenda a aquele cargo.

Na mesma corrida, cintilam nomes como de Raimundo Diomba, sobrevivente do poder Maconde, que deverá pôr equilíbrio à corrida, fazendo frente aos dois nomes de Sul. Ainda entre os candidatos confessos, consta o nome de Chaquil Abubakar, o manda-chuva no antigo secretariado do CC, que já fez chegar o pedido ao próximo Presidente do Partido, Daniel Chapo. Mety Gondola é outro nome que não passa despercebido. Mas somente três nomes poderão compor a lista final. No partido decorre uma reformulação de paradigmas e uma das coisas herdadas do consulado de Filipe Nyusi e Roque Silva que os camaradas querem escangalhar são as candidaturas únicas e vitória à moda norte coreana, com 100% dos votos.

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