LAMentável

EDITORIAL

Há duas LAM. Uma que está a abrir rotas e a baixar preços de uns assentos para imprimir uma falsa ideia de que é possível voar com muito pouco. Se você teve a sorte de coincidir com estes assentos acessíveis não caia no engano de que todos tiveram a mesma sorte. Esta LAM é conhecida de fora e por isso tem outras pinturas. Mas há outra que difere em absoluto da realidade da LAM conhecida apenas por fora. Esta é uma LAM sem alicerces e coberta de uma nuvem de incerteza e com problemas de pagar até combustível, sem falar de décimo terceiro.

 

E na outra semana os funcionários, estes que têm a visão da LAM por dentro, perderam o medo e perguntaram: “Por que tanto esforço em matar esta companhia?” É o legado do “competente” ministro Mateus Magala a ser questionado, ele que foi porta-voz dos “sucessos” da FMA.

 

Foi ele que deu à FMA, na apresentação do seu portefólio, uma experiência que não existe e anunciou um modelo de compensação aos gestores contratados que foi o oposto da verdade. E a desgraça dos que têm olhos para ver essa desgraça é exatamente esta de ver no governo essa cumplicidade que chega a indiciar acordos promíscuos.

 

E a soma da incompetência, de roubo ou de falta de experiência, que por vezes escapa aos incautos, é o que denunciamos nessas páginas de jornal, e hoje os próprios funcionários fazem coro, afinal já não é suportável colocar tanta improdutividade em baixo do tapete.

 

O retrato é este, desde que chegou a FMA: Temos uma LAM que está a falhar com os fornecedores e já vê os seus voos reprogramados por falta de combustível. A nível de gestão, já teve o insólito de atrasar em mais de uma hora porque tinha mais passageiros que a capacidade de avião. Um retrato que inclui a normalização dos atrasos, que no balanço dos dois meses foram dados como resolvidos pelo próprio ministro, depois que tivemos o episódio da IATA (uma mancha que ficou na história) e mais recentemente, houve rumores de que os moçambicanos foram colocados a voar em aviões sem seguros. 

 

O importante é abrir rotas e mais rotas, para alimentar o marketing da FMA e ninguém questiona, nem por curiosidade, porque a FMA tem um gosto apressado de apostar em tudo que implica aluguer de mais aviões, mesmo que isso implique retirar dos salários dos funcionários. E um tipo de aluguer que resga o tradicional modelo da LAM, que não exclui os pilotos nacionais e muito menos a nossa bandeira.

 

Enquanto os gastos aumentam com iniciativas pouco claras, o que se vê hoje é uma empresa que não consegue nem mostrar a coerência das medidas de gestão que toma. A operação Lisboa tem menos de um mês, mas sua continuidade é uma incerteza. Estamos novamente numa gestão a moda TSU e a pergunta é porquê? Cada um terá a sua resposta.

 

E os gestores do ministro Mateus Magala facturam perto de quatro milhões de meticais mensais por essa desgraça. Este é o valor pago em factura mensal e não incluem as negociatas de comissões que são uma tradição nos governos corruptos.

 

Enquanto isso, ficamos entretidos com as notícias de redução de custos e de abertura de mais rotas, que são confundidas com o sucesso da FMA, mas que não passam de um golpe de marketing, enquanto a companhia da bandeira morre por dentro, e não apenas em termos técnicos, mas em termos de identidade. Quem já teve a sorte de calhar num avião da CEM Air, sabe que é comum que todas as instruções sejam transmitidas em inglês sem nenhum serviço de tradução. Os aviões que fazem Maputo- Lisboa, não tem nada da nossa bandeira e nem logo da LAM, como foi dito que seria, a ponto de induzirem a erro o Presidente da República que na viagem à Europa disse que viajou com a companhia de bandeira, mas sem nenhuma bandeira moçambicana, nem logo da LAM. A única que parece ver tudo isso é a Ana Senda, que por alguma razão vem adiando assinatura do contrato prorrogado para dar a FMA o conforto legal de perpetuar a sua questionável gestão. 

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